Em Fevereiro, fui surpreendido por um e-mail pedindo para expor um desenho meu em um museu histórico na Alemanha. Pensei: “Fake, óbvio.”
Mas era real. Quem me escrevia era Nicole Kämpken, gerente da Beethoven-Haus, em Bonn, cidade natal do Beethoven (o músico, não o cachorro). Eles estavam organizando uma mostra de cartuns, quadrinhos e caricaturas, e haviam encontrado, na Internet, uma ilustração minha que retratava o Beethoven criança tocando a “Ode à Alegria” em seu pianinho. Eles gostaram desse trabalho e queriam minha permissão para incluí-lo na exposição. Perguntei se eu tinha que pagar alguma coisa - não tinha, eles realmente só queriam meu consentimento e um arquivo em alta resolução. Eu ia dizer o quê? “Toma aqui a senha do meu Google Drive, escolhe aí mais uns dez?” Podia soar meio sem noção.
Eu havia feito esse desenho lá em 2020. Foi antes de o Gab nascer, e, ficando em casa o dia todo (#pandemiaFeelings), eu tinha nada menos que muito tempo para desenhar. Um dia, nessa época, recebi do meu grande amigo e compadre Ivens Costa a notícia de que a Orquestra Sinfônica da Petrobras havia lançado, aqui no Brasil, um concurso de caricaturas em comemoração aos 250 anos de nascimento de Beethoven. Resolvi participar. Não ganhei nada no concurso, mas gostei da arte que produzi e decidi publicá-la no meu portfólio e redes sociais. Na época, ela até chegou a ser usada como imagem de capa em um episódio do ACearáCast, um podcast de Psicologia aqui da nossa terra. E vida que segue.
Claro que eu não imaginava o destino que esse trabalho teria três anos depois.
Pro pessoal da Beethoven-Haus, que monta diversas exposições por ano, imagino que tenha sido algo super banal, mas, pra mim, foi o ticket dourado do Willy Wonka voando direto na minha cara. Ganhei um pouco de reconhecimento lá no trabalho (Universidade Federal do Ceará). Saí até na mídia local.
E, com muita gratidão pelo apoio incondicional da minha família, tive a sorte de poder ir a Bonn visitar a exposição.
A Beethoven-Haus é um museu pequeno, muito significativo por ter sido a própria casa onde Beethoven nasceu. O acervo do museu contém pianos, violinos, partituras, obras de arte e diversos outros objetos pessoais que pertenceram ao músico. Tem um jardim aconchegante e três andares de história com o piso de madeira da construção original rangendo e integrando a sinfonia do local.
A mostra “How Funny! Beethoven in caricatures, cartoons and comics”, para a qual fui convidado, estava montada numa salinha separada, logo na entrada da casa. Iluminado e colorido, esse espaço contrastava fortemente com a atmosfera clássica do museu. Desenhos, histórias em quadrinhos, livros ilustrados e animações formavam uma seleção incrivelmente diversa de trabalhos criativos, hilários, críticos, inteligentes e, sobretudo, divertidos mostrando Beethoven sob os olhos de artistas de várias partes do mundo, incluindo nomes ilustres como Ozamu Tezuka, o "pai do mangá", e Charles Schulz, o criador dos Peanuts. E, em um dos balcões, estava o meu Kid Beethoven. Que emoção!
A Dr.a Silke Bettermann, curadora da exposição, foi muito gentil ao nos proporcionar um tour guiado com interessantes insights sobre as obras. Nicolas Magnin, da administração, também nos recebeu e nos apresentou o acervo principal do museu.
O Gab não gostou muito do museu porque achou escuro, o bichinho. 🥰 E achou as estátuas meio assustadoras. Mas adorou a mostra How Funny!, curtiu as animações, amou as tirinhas dos Peanuts e bolou de rir com um desenho do Beethoven tocando piano tão forte que quebrava e caía no chão… 🤷♂️
Bonn é uma linda cidade pequena com a atmosfera exata que esperávamos da Alemanha. Não bebemos cerveja, mas experimentamos o autêntico Schnitzel, que, para alguém que não fala alemão, como eu, pode soar como um filhotinho fofo de Schnauzer com Spitz, mas, na verdade, é uma deliciosa carne de porco empanada servida com batatas fritas saborosíssimas.
Mal posso esperar para ser surpreendido de novo por outro e-mail qualquer dia desses. Queria mais Schnitzels.