24 de Outubro de 2023
BEETHOVEN-HAUS
Em Fevereiro, fui surpreendido por um e-mail pedindo para expor um desenho meu em um museu histórico na Alemanha. Pensei: “Fake, óbvio.”
Mas era real. Quem me escrevia era Nicole Kämpken, gerente da Beethoven-Haus, em Bonn, cidade natal do Beethoven (o músico, não o cachorro). Eles estavam organizando uma mostra de cartuns, quadrinhos e caricaturas, e haviam encontrado, na Internet, uma ilustração minha que retratava o Beethoven criança tocando a “Ode à Alegria” em seu pianinho. Eles gostaram desse trabalho e queriam minha permissão para incluí-lo na exposição. Perguntei se eu tinha que pagar alguma coisa - não tinha, eles realmente só queriam meu consentimento e um arquivo em alta resolução. Eu ia dizer o quê? “Toma aqui a senha do meu Google Drive, escolhe aí mais uns dez?” Podia soar meio sem noção.

© Liandro 2020
Eu havia feito esse desenho lá em 2020. Foi antes de o Gab nascer, e, ficando em casa o dia todo (#pandemiaFeelings), eu tinha nada menos que muito tempo para desenhar. Um dia, nessa época, recebi do meu grande amigo e compadre Ivens Costa a notícia de que a Orquestra Sinfônica da Petrobras havia lançado, aqui no Brasil, um concurso de caricaturas em comemoração aos 250 anos de nascimento de Beethoven. Resolvi participar. Não ganhei nada no concurso, mas gostei da arte que produzi e decidi publicá-la no meu portfólio e redes sociais. Na época, ela até chegou a ser usada como imagem de capa em um episódio do ACearáCast, um podcast de Psicologia aqui da nossa terra. E vida que segue.
Claro que eu não imaginava o destino que esse trabalho teria três anos depois.
Pro pessoal da Beethoven-Haus, que monta diversas exposições por ano, imagino que tenha sido algo super banal, mas, pra mim, foi o ticket dourado do Willy Wonka voando direto na minha cara. Ganhei um pouco de reconhecimento lá no trabalho (Universidade Federal do Ceará). Saí até na mídia local.
E, com muita gratidão pelo apoio incondicional da minha família, tive a sorte de poder ir a Bonn visitar a exposição.

Bilheteria e lojinha

A entrada é aqui!

Jardim interno e uma das estátuas que assustou o Gab

Uma porta bonita

Detalhe para o selo de propriedade que Beethoven colocava em seus instrumentos

Piso que range desde os anos 1700

Vista do andar de cima

Lindo espaço instagramável
Fotos: Mandy Barroso / Liandro Roger
A Beethoven-Haus é um museu pequeno, muito significativo por ter sido a própria casa onde Beethoven nasceu. O acervo do museu contém pianos, violinos, partituras, obras de arte e diversos outros objetos pessoais que pertenceram ao músico. Tem um jardim aconchegante e três andares de história com o piso de madeira da construção original rangendo e integrando a sinfonia do local.
A mostra “How Funny! Beethoven in caricatures, cartoons and comics”, para a qual fui convidado, estava montada numa salinha separada, logo na entrada da casa. Iluminado e colorido, esse espaço contrastava fortemente com a atmosfera clássica do museu. Desenhos, histórias em quadrinhos, livros ilustrados e animações formavam uma seleção incrivelmente diversa de trabalhos criativos, hilários, críticos, inteligentes e, sobretudo, divertidos mostrando Beethoven sob os olhos de artistas de várias partes do mundo, incluindo nomes ilustres como Ozamu Tezuka, o "pai do mangá", e Charles Schulz, o criador dos Peanuts. E, em um dos balcões, estava o meu Kid Beethoven. Que emoção!

Tentando absorver conhecimento

Realmente não era fake!
A Dr.a Silke Bettermann, curadora da exposição, foi muito gentil ao nos proporcionar um tour guiado com interessantes insights sobre as obras. Nicolas Magnin, da administração, também nos recebeu e nos apresentou o acervo principal do museu.
O Gab não gostou muito do museu porque achou escuro, o bichinho. 🥰 E achou as estátuas meio assustadoras. Mas adorou a mostra How Funny!, curtiu as animações, amou as tirinhas dos Peanuts e bolou de rir com um desenho do Beethoven tocando piano tão forte que quebrava e caía no chão… 🤷♂️
Bonn é uma linda cidade pequena com a atmosfera exata que esperávamos da Alemanha. Não bebemos cerveja, mas experimentamos o autêntico Schnitzel, que, para alguém que não fala alemão, como eu, pode soar como um filhotinho fofo de Schnauzer com Spitz, mas, na verdade, é uma deliciosa carne de porco empanada servida com batatas fritas saborosíssimas.
Mal posso esperar para ser surpreendido de novo por outro e-mail qualquer dia desses. Queria mais Schnitzels.
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07 de Agosto de 2023
Infansomnum
Cama compartillhada é uma opção que nunca quisemos adotar como prioridade ao estabelecer as rotinas de sono do Gab, mas… a vida acontece, né? Uma vantagem que descobrimos é que a cama compartilhada é um método eficiente na infansomnumpositionologia: o estudo das complexas poses que bebês e crianças fazem enquanto dormem. Pelo menos, um método melhor do que ficar olhando a tela da babá eletrônica.
Para facilitar o entendimento do público leigo acerca dos achados científicos dessa experiência, segue um guia ilustrado:
Por ser um campo de estudo inexplorado, a infansomnumpositionologia oferece espaço para estudos futuros que venham a contribuir com a expansão dessa base de dados. 😁
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05 de Junho de 2023
U-au, que hiato
Faz tempo que não escrevo aqui! Quase aposentei este blog - na verdade, ele ficou inativo mesmo por quase 3 anos. Mas resolvi voltar porque… porque sim, né? :) Porque, aqui, os algoritmos e os likes não precisam ser o foco. Porque, aqui, a relevância pessoal pode contar mais que a necessidade de gerar engajamento. Porque, enfim, penso neste site como uma “open house” de ideias, e, ao pensar melhor, achei que seria legal manter este espaço como parte desse projeto maior.
Tanta coisa aconteceu nesses quase 3 anos!…
Esse collab resume um pouco de como a vida tá atualmente. 🥰

Sketch colaborativo com Gabriel Barroso :3
Entre os aprendizados da paternidade e outros desafios do dia-a-dia, é provável que as postagens aqui não sejam tão frequentes quanto eu gostaria… mas o que vale é continuar cultivando.
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29 de Setembro de 2020
TRANSFORMAÇÃO e caos
Algumas vezes, eu enxergo, no desenho, metáforas que meio que servem para a vida.
Em 2019, eu fiz uma série de desenhos para um desafio artístico que era, então, bem popular nas redes sociais, e a experiência foi muito bacana (até fiz um vídeo sobre isso na época). Vários meses depois, resolvi pegar alguns dos desenhos de que mais gostei e refazer - mantendo a ideia, mas melhorando aspectos do desenho como linha, composição e character design. Alguns ganharam cores também - foi o caso desse abaixo, cujo tema foi swing (“balanço”):

Primeira versão, 2019

Remake, 2020
Eu curti muito refazer esse desenho e gostei do novo resultado, mas uma das coisas que mais me chamou atenção foi o quanto o meu processo inicial de esboço foi “sujo”. Eu levei várias semanas até chegar nessa versão final colorida, fazendo um pouquinho a cada dia, e quando terminei, resolvi rever as etapas anteriores do desenho, que estavam salvas em camadas no Photoshop nas versões anteriores do arquivo (por sinal, recomendo fazer isso: ir salvando novas versões do trabalho em novos arquivos em vez de salvar por cima das versões antigas). No final do processo, eu já não lembrava totalmente das primeiras etapas, e me surpreendi quando vi que, no processo de recriar o desenho, meu primeiro esboço tinha sido esse:

Sim, essa bagunça aí mesmo. :) Isso foi meu primeiro “passe” pra reconstruir esse desenho. Mesmo com toda a ideia já pensada, o ato de re-desenhar acabou me levando de volta a esse “caos criativo”.
Depois, fui fazendo iterações, e as coisas foram melhorando pouco a pouco nos passes seguintes:

Mas é revendo esse processo que eu enxergo a metáfora pra vida: toda transformação costuma ser caótica, confusa, principalmente no início, mesmo quando o ponto de partida é algo já familiar. Mas enfrentando e vivenciando aquele processo, a gente vai alcançando maior clareza pouco a pouco e as coisas vão fazendo mais e mais sentido.
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07 de Agosto de 2020
COMO ENCONTRAR SEU ESTILO?

Resposta curta: seja você mesmo, e o seu estilo é que vai te encontrar.
Agora, desenvolvendo um pouco mais a ideia… todos nós somos pessoas diferentes, né? Cada um tem sua maneira individual de pensar e de fazer as coisas. E por que é assim? Bom, imagina que você pega todas as pessoas e todas as coisas que já passaram pela sua vida até hoje e bate tudo num liquidificador: o resultado disso é… sim, VOCÊ! As pessoas e os eventos que mais te marcaram seriam ingredientes em maior proporção, mas cada pequena experiência já vivida contribuiu, de alguma forma, pra tornar você quem você é. Você, o seu jeito de ser, a sua individualidade, a sua personalidade - como queira chamar - é, de fato, um mix heterogêneo, multi-fásico e agridoce de tudo o que te influencia ou influenciou como ser humano de alguma forma: seus pais, familiares, amigos, parceiros/as, professores, perfis que você segue, posts que curte, livros que lê, jogos que joga, o que você come, os filmes que assiste, os lugares que visita, tudo o que você “consome”. Isso tudo, claro, somado ainda a outros fatores de ordem biológica, como a sua genética… mas, em suma, é isso que faz cada ser humano ser uma pessoa diferente: cada um de nós está vivendo uma vida diferente, com diferentes experiências e aprendizados.
Se você se identifica com a ideia de que você é um ser humano individual e único, que ninguém é exatamente igual a você, que ninguém faz as coisas exatamente do mesmo jeito que você faz… então, provavelmente, vai concordar se eu disser que você já tem o seu próprio “estilo enquanto pessoa”, hehe.
E se você é artista, o seu estilo visual, a sua “identidade artística” nada mais é do que o seu “estilo enquanto pessoa” materializado na forma da sua arte. Mais especificamente, é o mix das experiências que você vive com a vida e com os desenhos que produz, os cursos que faz, as obras de outros artistas que observa.
O seu estilo não é algo que precisa ser “alcançado”, ele já existe com você neste momento. É uma questão de deixá-lo aparecer e fluir.
Mas o mais incrível é: você ainda está vivendo, né? Isso significa que o seu liquidificador mágico está ligado e funcionando, e cada nova experiência é mais um ingrediente que vai sendo adicionado ao seu mix particular. Os novos ingredientes podem se diluir na mistura ou transformar significativamente a cor, o sabor, a textura. Em outras palavras, nenhum ser humano é “fixo”, estamos todos em constante transformação. A vida é movimento.
Assim, à medida que você se transforma como ser humano, o seu estilo artístico se transforma junto com você de alguma forma. E isso é um bom sinal - quem, em sã consciência, escolheria não evoluir, ficar preso em noções ultrapassadas? O mundo gira, o universo se expande, e são as nossas transformações individuais que nos permitem uma melhor adaptação a tudo isso. Cada técnica que você aperfeiçoa, artista que descobre, arte que produz é um ingrediente novo no seu blend.
Se você acha que não possui um estilo próprio ou que ainda não o encontrou, quem sabe o seu “mix artístico” esteja precisando de uma maior quantidade de ingredientes? Ou uma maior variedade? Uma intensidade maior de um ingrediente específico? Um ingrediente novo? Ou talvez você precise tirar a tampa do liquidificador pra poder enxergar o que tem dentro?
O estilo de um artista é o conjunto de formas visuais que a gente vê no papel ou na tela, mas é, também, a ideia, o processo, a forma de pensar a imagem e a mensagem. É a pessoa por trás do traço, do jeito que ela é naquele momento do tempo e do espaço.
A rima foi sem querer, juro. :)
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25 de Junho de 2020
Rotina é importante?

No começo do ano, eu fiz um vídeo pro Sketch Club falando sobre a importância da rotina.
Eu costumo me orgulhar de ser organizado, de me esforçar para ter hábitos saudáveis, de desenhar todo dia. Mas preciso confessar: nesses dois últimos dias, praticamente não risquei uma linha, trabalhei horas excessivas “no automático”, dormi menos que o necessário e tive muita dificuldade pra respeitar meus horários. Se eu fiquei me sentindo mal com isso? Claro que sim, eu sou alguém que exige um bocado de si.
Mas, aqui, entra em jogo outras coisas que venho tentando, há algum tempo, praticar e incorporar em todas as esferas da minha vida cada vez mais: aceitação e compaixão. Muitas vezes, as coisas não saem conforme o planejado, e sabe o quê? Tá tudo bem! A gente não tem mesmo o controle sobre a maioria das coisas na vida, né? Isso não quer dizer parar de se esforçar e mandar um f*da-se pra tudo (embora mandar um f*da-se pra algumas coisas também seja essencial, hehe). Mas quer dizer nos tratar bem, ser gentis com a gente mesmo. Tá tudo bem se, hoje, não deu certo, se não saiu como você esperava, se você achava que podia ter feito mais e não fez. O sol nasce todos os dias. Permita-se dar um abraço de boa noite em si mesmo e diga: “tá tudo bem, amanhã a gente tenta outra vez.”
Foi o que eu fiz ontem, e deu certo.
Sim, planejar é importante, ter rotinas, hábitos e metas, também - mas tão importante quanto (muitas vezes, até mais) é ter flexibilidade, paciência, equilíbrio, auto-compaixão, ser seu próprio melhor amigo. E, simplesmente, respirar fundo, se adaptar às circunstâncias e começar de novo.
“Blessed are the flexible, for they shall not be bent out of shape." - Michael McGriffy, MD
PS.: Eu achei o máximo essa citação! Encontrei ela nesse texto.
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08 de Junho de 2020
Sketches de domingo



Domingo, chuva e o dia inteiro em casa: a receita da preguiça. De vez em quando, é bom aproveitar, né? Entre um cochilo e outro, fiz alguns sketchinhos no caderno! Voltei a usar lapiseira com borracha na ponta e grafite fino que não precise apontar (0.5) porque queria ficar carregando junto com o sketchbook não mais do que um único objeto (preguiça de andar pra lá e pra cá com um estojo cheio de coisa). Mudar de material me levou a ficar mais atento com o meu processo de sketch - acho (espero) que consegui incorporar um estado maior de "mindfulness", hehe. É isso por hoje - a preguiça ainda está reverberando até agora. :)
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03 de junho de 2020
diz-me onde habitas e te direi quem és

Aham - [voz do aluno nerd certinho] "Esta semana, eu aprendi com o tio Nathan Fowkes, no curso de Environment Design do Schoolism, que devemos sempre caracterizar nossos cenários com o mesmo senso de personalidade com o qual caracterizamos nossos personagens." 🤓
Haha! Mas é verdade, é impressionante como os ambientes costumam refletir a personalidade dos seres que nele habitam. A gente descobre coisas interessantes sobre as pessoas quando começamos a prestar atenção em como é o quarto delas, a casa, o escritório... já reparou? Provavelmente, o seu quarto (ou até a sua casa inteira) reflete bastante de quem você é como pessoa. E bons designs de cenários levam isso em conta. Um cenário não é um simples plano de fundo - é "uma experiência." (FOWKES, Nathan)
Foi com essa ideia em mente que eu rascunhei o concept acima, que é o quarto da "Menina que era feita de música", um projeto autoral em andamento. Pra manter o processo fluindo, desenhei tudo relativamente rápido e sem referências. Claro que muita coisa ainda pode melhorar, e, sim, é provável que muita coisa ainda vai mudar até chegar na versão final. Mas é uma primeira ideia! E gostei da espontaneidade que consegui manter nessas linhas.
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31 de Maio de 2020
querido journal...




Uhuuu! Estreando meu art journal :) Senti falta de um local tipo o blog que eu tinha antigamente pra ficar postando conteúdo e trabalhos em progresso de forma descompromissada, sem a pressão que as redes sociais exigem hoje em dia. Aqui, a ideia é mais fazer um diário mesmo pra mim, escrever o que e quando estiver a fim e ter uma espécie de registro da minha produção artística sem ter que me preocupar com seguidores, likes ou algoritmos. Mas quero fazer esse journal em uma página aberta pra experimentar... sei lá, vai que alguém se interessa em ler e saber o que estou fazendo, como é o processo criativo e tal. Se você chegou até aqui e, de repente, achou alguma coisa legal, quer trocar uma ideia ou fazer um comentário, manda uma mensagem aí! Vou ficar bem feliz. :)
Bom, ontem e hoje estive brincando de animação e esbocei um pequeno loop da "menina que era feita de música", uma personagem que venho desenvolvendo para um projeto pessoal (uma historinha fofa escrita pela minha esposa linda <3). Quem sabe a gente transforma em um livro algum dia, ou talvez em um app ou webcomic? Por enquanto, é só algo divertido pra brincar!
Fazer animação dá trabalho pra caramba, né? Comecei pelos keyframes, primeiro com um gesto e depois refinando as linhas, e só depois rascunhei os in-betweens e ajustei o timing. Ainda falta fazer o clean-up de tudo, mas essa brincadeirinha já vai em mais ou menos 3 horas de produção até agora! Pense...
Apesar do tanto de trabalho pra algo tão rápido, tou curtindo bastante fazer! :D Acho que o segredo pra não saturar é fazer várias pausas, parcelar o processo mesmo, haha.