Em 2024, voltei para a mesma universidade onde havia feito minha graduação em Publicidade mais de 20 anos antes. O velho campus, uma nova etapa. Tudo familiar e, ao mesmo tempo, tudo diferente. Inclusive (principalmente) eu.
Entrar no doutorado foi difícil. Ok, acho que ninguém espera que seja fácil. Mas, pra mim, o mais difícil não foi migrar pra uma área nova, passar anos maturando um projeto de pesquisa, manejar os nervos durante o processo seletivo ou superar a frustração das tentativas não aprovadas. O mais difícil foi entender - aceitar, aliás - que um doutorado era necessário.
Pra quem dá aulas em universidade e acabou de terminar um mestrado, fazer doutorado é o “próximo passo” para crescer. Mas, em meados de 2017, eu queria crescer de outras formas: queria me dedicar ao desenho, encorpar meu portfólio, encontrar uma identidade criativa. E a jornada de pesquisador parecia estar querendo me levar por um caminho diferente - de alguma forma, eu me sentia “menos artista”.
Então, depois do mestrado, fui estudar desenho. Aprendi fundamentos, refinei técnicas, montei um corpo de trabalho. Pouco a pouco, sentia que estava preenchendo uma lacuna na minha formação, pavimentando meu caminho criativo.
Crescer como desenhista me ajudou a crescer como professor de desenho também… embora esse crescimento, tão significativo na prática, pouco tenha contribuído para ajudar a avançar “oficialmente” na chamada carreira acadêmica.
Apesar disso, eu me senti realizado por poder nutrir o fazer artístico como parte da minha identidade pessoal e profissional.
Até que meu filho nasceu. E tudo mudou. Em meados de 2021, a necessidade de planos para o futuro gritava bem alto. E o doutorado ecoou em sintonia com esses planos. A paternidade realmente pode colocar muita coisa em perspectiva.
Mas eu ainda queria um caminho que me permitisse “continuar artista”. Seria possível embarcar numa nova jornada acadêmica sem me distanciar da arte? Quando fiz o primeiro contato com a professora que se tornou minha orientadora, arrisquei ser assertivo: “Quero uma pesquisa que dialogue com minha prática de desenho”. Tive sorte o suficiente para receber a resposta: “Topo!”
Foi assim que comecei a estudar sobre relação pessoa-ambiente. Minha pesquisa pretende me levar a desenhar “ao vivo” em diversos lugares e investigar como o processo criativo é condicionado pela experiência dos ambientes com os quais interagimos.
E por que Psicologia? Talvez essa não seja uma área tão óbvia para quem busca um doutorado que dialogue com a arte. Mas os caminhos óbvios nem sempre são os que respondem ao que buscamos. O que enxerguei foi que a “ciência da alma” torna possível olharmos para todas as questões que nos fazem humanos - inclusive a arte. Nessa jornada, sou grato por encontrar pessoas que me enxergaram de volta, me acolheram, me respeitaram. Tenho aprendido muito. Não só sobre o mundo da pesquisa, mas sobre se abrir e aceitar, se surpreender e superar. Ainda estamos no começo, mas tenho sentido que existe um lugar fértil para explorar minhas ideias.
É possível que meus caminhos na arte e na pesquisa venham a convergir?